A partir de hoje, você confere aqui no Blog da Escribo conteúdos exclusivos do educador e psicólogo americano Robert Slavin, pesquisador de políticas educacionais. Ele também é diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins, referência internacional na formação de educadores e pesquisadores educacionais. Neste primeiro texto, Slavin fala sobre a importância de estimularmos a pesquisa e a aplicação de evidências científicas para melhorar cada vez mais a educação.
Tradução: Danilo Aguiar/Américo Amorim.
Em 1879, Thomas Edison inventou a primeira lâmpada. O principal problema que ele enfrentou foi encontrar um filamento que brilhasse, mas não queimasse muito rapidamente. Para encontrá-lo, ele testou mais de 6.000 substâncias que poderiam ser usadas nos filamentos. O algodão carbonizado funcionou muito melhor do que todos os outros (o tungstênio, que usamos atualmente, surgiu muito depois).
A luz incandescente mudou o mundo, claro. Ela substituiu sistemas de iluminação a gás muito mais caros e era muito mais versátil. A lâmpada permitiu fazermos todo tipo de atividade humana de tarde e de noite.
Mas se a lâmpada tivesse sido uma inovação educacional, provavelmente seria vista como uma falha enorme. Os céticos diriam que apenas um em cada seis mil filamentos funcionava. Os pesquisadores teriam calculado que o effect size para todas as 6.000 substâncias seria de apenas +0,000000001. Dificilmente valeria a pena adotar essa inovação (a lâmpada). Se os experimentos de Edison fossem financiados pelo governo, os políticos teriam reclamado que o dinheiro dos contribuintes foi desperdiçado em 5.999 testes. Os economistas teriam calculado as taxas de custo-benefício e concluído que, mesmo que a luz de Edison funcionasse, o custo de fabricar somente uma já era astronômico, sem mencionar o custo incalculável da instalação de sistemas de geração e fiação elétrica nas cidades.
Tudo isso é ridículo, você deve estar dizendo. Mas no mundo da educação baseada em evidências, coisas parecidas acontecem o tempo todo. Em 2003, Borman et al. fez uma meta-análise de 300 estudos que avaliaram 29 projetos de reforma no sistema educacional. Eles identificaram três estudos que foram muito eficazes. Em vez de celebrá-los e divulgá-los (e continuar a pesquisa e desenvolvimento para achar mais deles), o Congresso dos EUA encerrou o financiamento para a disseminação de programas abrangentes de reforma escolar.
Outra prática comum em educação é usar os resultados médios obtidos em meta-análises de toda uma categoria de programas ou políticas, ignorando o fato de que existem alguns programas que são muito diferentes e muito mais eficazes do que a média de todos os programas. Um bom exemplo são as escolas charter (escolas privadas financiadas por recursos públicos). Em uma meta-análise de larga escala, pesquisadores de Stanford (2013) descobriram que na média as escolas charter não produzem efeitos significativos. Uma análise feita em 2015 encontrou effect sizes melhores, mas ainda muito pequenos, nas redes de escolas urbanas (ES = +0,04 na leitura, +0,05 em matemática). Em 2010, a What Works Clearinghouse publicou um artigo após encontrar resultados negativos, porém discretos, em escolas charter do ensino médio. Essas descobertas são úteis porque nos mostram que as escolas charter não são mágicas nem obtêm resultados positivos somente porque são charter. Apesar disso, as descobertas não dizem nada sobre as escolas charter que são extraordinárias e que usam métodos que outras escolas públicas (inclusive não charter) também poderiam usar. Há evidências mais fortes ligadas a escolas com a política “sem desculpas”, como os programas educacionais KIPP e Success Academies (em inglês), mas entre os milhares de escolas do tipo existentes agora, esse é o único formato que vale a pena replicar? Deve haver algumas “luzes brilhantes” entre todas essas “lâmpadas”.
Como um terceiro exemplo, existem muitos programas de tutoria usados por alunos com dificuldades em leitura e matemática. O tamanho médio dos efeitos de todas as formas de tutoria é de cerca de +0,30, tanto na leitura quanto na matemática. Mas existem abordagens de tutoria de leitura com tamanhos de efeito de +0,50 ou mais. Se esses programas estão disponíveis, por que as escolas não adotariam os melhores programas? Escolher práticas pedagógicas “medianas” é útil para fins de pesquisa, já que sempre calculamos custos e possibilidades, mas eu acreditava que toda escola iria querer usar o melhor para as crianças por um bom custo-benefício.
Eu sempre ouvi professores e diretores dizerem que “os pais nos enviam os melhores filhos que eles têm”. Sim, eles fazem isso, e por esse motivo, é nossa responsabilidade como educadores oferecer a esses jovens os melhores programas que pudermos. Costumamos descrever a educação dos alunos como esclarecedora, como “ acender a lâmpada da sabedoria”. Talvez a melhor maneira de criar um pouco mais de luz seja pegar uma idéia de Edison, o grande mestre: experimente incansavelmente até encontrar o que funciona. Aí então, use o melhor que tiver.
Referências
Borman, G.D., Hewes, G.M., Overman, L.T. & Brown, S. (2003). Reforma e aproveitamento escolar abrangentes: uma meta-análise. Revisão da Pesquisa Educacional, 73 (2), 125-230.
Diretor do Centro de Pesquisa e Reforma em Educação da Universidade Johns Hopkins. Ph.D. em Relações Sociais pela Universidade Johns Hopkins, Dr. Slavin é autor ou co-autor de 24 livros e mais de 300 artigos e capítulos de livros sobre reformas na educação baseada em evidências e diversos outros temas relacionados.
Por que não o melhor?
Para que sobre verbas para seus interesses, investir na educação não é importante por isso.
E jogam para as escolas e professores (as) a responsabilidade de se fazer educação de qualidade. No Brasil, querem que façamos milagres, não é nem bolças de seda com orelhas de porco.